Foi realizando uma escavação no quintal de casa que o comerciante José Maria Ribeiro encontrou pedras de calcário com plantas fossilizadas. Ela mora na localidade de Cabeça de Santa Cruz, distrito de Quixeré, na Região do Baixo Jaguaribe. "Estava cavando para aterrar a área ao lado de casa quando a enxada bateu nas pedras. Retirei e vi que tinham folhas diferentes nas próprias pedras".

José Maria compara a maior das folhas com a do cajueiro ou da oiticica. "Mas o interessante é que não se tem notícia das plantas por aqui e a dúvida é essa: como vieram parar nessa região?". Ele guarda como relíquias as pedras de calcário com as folhas fossilizadas.
Descoberta
Folhas pré-históricas no Ceará
Rita Célia Faheina
Professores e pesquisadores descobrem área com vários tipos de vegetais fossilizados na região do Baixo Jaguaribe. É o primeiro achado deste tipo na região. O material será estudado em laboratório por professores da Uece
O paredão de calcário arenoso tem cerca de 30 metros de altura e fica nas proximidades da Chapada do Apodi, na Região do Baixo Jaguaribe. Dali, a população do município de Quixeré extrai pedras para transformá-las em cal. E foi observando essas pedras que os professores da Universidade Estadual do Ceará (Uece), István Major e Valberto Porto, além do geólogo Artur Andrade, descobriram fósseis vegetais de várias espécies. Impressões de folhas, com variados tamanhos e formatos podem ser vistas na jazida horizontal e no material retirado que fica nas proximidades. Trata-se do primeiro achado de espécies vegetais fossilizadas naquela área. Há 51 anos, foram encontradas duas folhas, com as mesmas proporções, em Russas, também no Baixo Jaguaribe.

Embora exista a semelhança com folhas de cajueiro, o material recolhida em Quixeré ainda será estudado para identificações. Os professores István Major e Oriel Herrera Bonilla, do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece), estiveram no local e recolheram pedras de calcário com as folhas conservadas no calcário para o estudo no Laboratório de Ecologia. Mesmo já tendo visitado a região há cinco anos, o professor-doutor de Geografia Física e Biologia, István Major, fez outros achados e ficou impressionado com a riqueza do material fóssil que se encontra na jazida calcária. Ele diz que a vegetação que ali existiu, possivelmente, uma florestal tropical, por causa do grande número de folhas, deve ter sido há cerca de um milhão de anos.
Além dos variados tipos de folhas fossilizadas, foram encontradas raízes e pequenos troncos fossilizados. O botânico e professor Oriel Herrera Bonilla compara um dos tipos de folhas (a maior e mais larga) com a do cajueiro. Mas ele diz que só com um estudo detalhado, através de microscópio e com a separação do pólen do calcário, é que poderá ter a certeza. Segundo explica, o pólen quando fossilizado não perde nenhuma característica e pode muito bem ser recuperado para a análise no laboratório.
Outra impressão de folha conservada no calcário, encontrada no paredão, foi comparada à do sabiá e ainda há quem veja características de folhas de oiticica. Nenhuma dessas espécies são encontradas atualmente naquela região. "O processo de fossilização aqui foi muito rápido. Essa área teve uma vegetação muito rica", diz István Major.
Serviço
A Coleção Mossoroense de Estudos de Paleontologia Potiguar, da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM) é a única publicação sobre plantas fósseis de todo o Nordeste brasileiro. A coleção, organizada pelo professor-doutor Vingt-Un Rosado Maia, já falecido, foi publicada em 1981.
Fonte: Publicação do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Rio de Janeiro