Brilhantes profissionais, como o mestre Burle Marx, deram vida e personalidade à nossa cultura paisagística, tirando proveito da criatividade e dos exuberantes recursos naturais.
Entre as primeiras manifestações paisagísticas verificadas no país, temos o Passeio Público do Rio de janeiro, idealizado por volta de 1769 pelo Mestre Valentim; os jardins Botânicos da capital carioca e de São Paulo (início do século XIX) e já no século atual os grandes parques das quintas e chácaras; além dos palacetes, onde as casas ficavam situadas em meio a grandes jardins de inspiração francesa e inglesa.
Em meados de 1900 era comum a preferência pela estética de padrões importados, mas gradativamente passou-se a incluir a vegetação tropical nos projetos. Assim, despontou o uso de helicônias, marantas, filodendros, entre várias outras espécies, o que podia ser visto nos casarões dos Campos Elíseos e em parques públicos, como o do Ipiranga.
Nessa época, ocorria o apogeu do ecletismo, no qual se veneravam pseudo-estilos (gótico, romano e neoclássico). Já no período pré 2ª Guerra Mundial, o advento do movimento moderno na arquitetura brasileira desencadeou uma resposta paisagística condizente com essa manifestação. E começaram a surgir os grandes gênios dessa atividade no país.
Burle Marx, sem dúvida, é um profissional singular no paisagismo nacional e também no cenário mundial. Ele enalteceu a utilização das espécies nativas e inovou o desenho dos jardins, uma vez que esteve ligado ao Modernismo. Suas soluções incluem grandes manchas coloridas e outros recursos, como espelhos d'água, mosaicos portugueses, seixos e pedras. Imprime em suas criações um toque cênico, certamente devido à sua brilhante vocação artística, tirando partido da forma, cor, textura e luminosidade dos vegetais, com forte expressividade. Suas obras, como os jardins do Itamaraty e Aterro do Flamengo, entre tantas outras, São referências fundamentais para o nosso paisagismo.
Em São Paulo, no começo da década de 50, se destacaram outros dois profissionais. Waldemar Cordeiro, um artista rústico engajado na corrente Concretista e muito preocupado com a coerência de seus trabalhos, que dedicava ao landscape cuidados de obras de arte. Ou seja, ele utilizava os terrenos como, campos gráficos, tratados de forma dimensional na disposição das massas vegetais. Jogos cromáticos eram uma de suas marcas, assim como curvas e deslocamentos geométricos. Originou um dos chavões do paisagismo contemporâneo: "cada caso é um caso"; sem esquecer as adequações técnicas e funcionais aliadas à liberdade. A área verde do Clube Espéria foi sua concepção.
Roberto Coelho Cardozo é considerado o fundador da "escola paulista de paisagismo", pois foi ele quem introduziu no curso de arquitetura da FAU/USP esta especialidade, visando consolidar a profissão. Sua formação acadêmica, ocorrida nos Estados Unidos, favoreceu o desenvolvimento do conceito da paisagem urbana, ao lado dos itens residências e parques. Para tanto, adaptou-se A tropicalidade e exuberância da flora local, bem como às condições climáticas e ambientais. Deixou bem caracterizada a idéia de que o paisagismo deve ser uma síntese entre a história natural e a reflexão artística, preconizando a realização de projetos a condições fixas e não padrões rígidos. Entre seus traços peculiares estavam uma marcante geometrização - linhas retas, ângulos, polígonos e ainda semicírculos e curvas.
Indiscutivelmente, estes talentosos nomes, que decodificaram na paisagem os ideais do Modernismo, com o fim da rigidez e a exaltação da. livres criações, são pessoas fundamentais na trajetória do paisagismo brasileiro. Em suma, as vertentes da produção verificada hoje em dia.
Fonte de pesquisa:
Bibliografia "Waldemar Cordeiro, uma aventura da razão ", MAC/USP; - "Roberto Burle Marx e a nova visão da paisagem", de Flávio Motta; "The Gardens of Roberto Burle Marx", de Sima Eliovson; - "Paisagem e Ambientes - Ensaios IV", FAU/USP.
Consultoria e Pesquisa de Texto Fany C. Galender.
Desenvolvimento Rosana Ferrantini Marques
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