Olfato é um sentido muitas vezes menosprezado pela cultura excessivamente visual da atualidade. Infelizmente, os perfumes que nos chegam mais intimamente são aromas industrializados, portanto artificiais, sobre os quais quase nada se sabe a respeito dos seus efeitos sobre o comportamento humano.
Por causa desta enorme profusão de aromas a que somos expostos a todo o momento, acentua-se cada vez mais a nossa incapacidade de reconhecer, interpretar e até mesmo identificar os odores que percebemos. Nas grandes cidades é comum a perda do sentido pelo ataque constante de poluentes nas vias respiratórias.
O aroma das flores, além de atrair os insetos para garantir seu próprio renascimento, serve para relembrar os seres humanos o paraíso perdido, revitalizando sua alma, ao desbloquear as travas do inconsciente, que é a inspiração. O aroma inspira sempre. Novas visões, novas idéias, novos feitos, novas emoções. E, para tal, somente se faz necessário estar alerta, atento para aquilo que acontece a nossa volta, abrindo o coração para aceitar e acreditar no novo.
O trabalho do florista não é somente o de criar beleza visual para um evento qualquer, um mero elemento decorativo. Ele também tem a possibilidade de construir verdadeiras sinfonias de aromas que vão levar mensagens divinas àqueles que estiverem abertos para senti-las e acolhê-las.
Por exemplo, a Angélica (Polianthus tuberosa) com seus talos longos, como que saindo do chão para alcançar as alturas, traz a idéia de elevação, a busca do Eu superior, inspira confiança e fé, quando tudo parece ameaçado ou perdido. O perfume desta flor pode alentar esperança aqueles que passaram por um processo cirúrgico ou se encontram em tratamento de uma doença grave.
Outro exemplo é a madressilva (Lonicera caprifolium), cujo perfume inspira-nos a libertação daquilo que nos prende ao passado, a uma felicidade perdida que jamais voltará, devolvendo-nos a capacidade de sonhar, recriando o presente por meio de novos desafios, de novos alentos. É um perfume que toca as pessoas angustiadas pela perda de pessoa próxima ou encontram-se em situações de transformações radicais e inesperadas.
A frésia (Freesia sp.) inspira harmonia entre agrupamentos humanos, apoiados numa ética objetiva e superior. Tem um perfume inspirador para convenções, encontros e situações nas quais várias opiniões e idéias estarão sendo expostas e o entendimento, como busca do ponto comum, é fundamental.
Diante destas informações as pessoas podem sentir‑se desnorteadas. Realmente, a absorção deste conhecimento e sua aplicação prática parece complexa e difícil. O que fazer então?
Um adágio de Henrique José de Souza pode nos trazer a resposta: "A intuição é mais atrevida que a própria inteligência. Ela é algo assim como um farol que orienta o rumo da inteligência e, por isso mesmo, foi a voz interna que guiou todos os descobridores”.
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