As estratégias de caça de algumas das plantas carnívoras mais estranhas do mundo são perturbadoras, muito além do que os botânicos poderiam imaginar.
Monstruosas comedoras de homens. Devoradoras de donzelas. Flores do mal. Desde que a ciência encontrou as primeiras pistas de que algumas plantas tinham uma queda por carne, surgiram histórias terríveis sobre o que pode estar escondido nas selvas distantes. Muitos leigos engoliram relatórios sobre plantas que comem humanos e flores com sede de sangue, mas naturalistas tiveram dificuldade em aceitar a idéia de que vegetais poderiam ser carnívoros. Nos anos 1770, o naturalista sueco Carl Linnaeus descartou a hipótese como sendo "contra a ordem da natureza". Mesmo um século depois, quando Charles Darwin relatou suas observações sobre plantas que capturavam e devoravam insetos, alguns ainda se recusaram a acreditar. Um botânico achou a noção tão ofensiva que definiu os estudos de Darwin como "lixo científico".
Desde então, biólogos têm se acostumado com a idéia de que algumas plantas comem animais. Mas mesmo eles não podiam imaginar as novas descobertas sobre um grupo de plantas carnívoras, as nepentes, que estão mandando para o ralo algumas crenças antigas.
Experimentos cuidadosos, vídeos em alta velocidade e muito trabalho duro nas florestas de Bornéu, na Indonésia, estão revelando que essas plantas são muito mais capciosas e ativas na hora de aniquilar suas presas do que jamais se suspeitou. Existem até indícios de que algumas plantas carnívoras possuem "estratégias de caça" parecidas com as de animais predadores.
Dionéia Norte-americana, tem rizomas que se enterram em profundidades de até 10 cm, o que faz com que ela sobreviva a incêndios florestais.
Como ela mata
Seduzir para assassinar. Essa é a tática da dionéia, que exala um néctar que atrai os insetos. Pêlos táteis funcionam como radar e indicam a proximidade de uma possível presa. Quando isso ocorre, a mandíbula se fecha com força, muita força. Tanto que alguns insetos morrem pelo impacto, e não pela ação dos líquidos segregados pelas glândulas digestivas da planta.
"Plantas carnívoras têm sido estudadas por tanto tempo que seria possível imaginar que tudo já tivesse sido descoberto", afirma Walter Federle, que investiga a biomecânica de insetos na Universidade de Cambridge. "Mas botânicos trabalharam principalmente com espécies herbárias ou plantas em estufas. Estudos conduzidos sob condições naturais estão mostrando um lado totalmente novo sobre o modo como as plantas carnívoras capturam e matam suas presas."
Com suas bocas entreabertas e marcas em vermelho-sangue, as nepentes têm uma aparência apavorante e podem capturar uma grande variedade de bichos, a maioria insetos, mas também aranhas, escorpiões, centopéias, lesmas, sapos e, até mesmo, um rato. Ainda assim, suas armadilhas não são sofisticadas quando comparadas às de outras plantas carnívoras.
A dionéia se fecha sobre insetos desprevenidos em uma fração de segundo, a drosera efetivamente abraça suas vítimas com armadilhas do tipo "papel pega-mosca", enquanto a utricularia ostenta armadilhas de sucção explosiva. Mesmo com toda a sua aparência repugnante, a nepente parece estar equipada apenas com a mais básica das armadilhas, a "cilada" passível. Pelo menos era o que pensavam os botânicos.
A maioria das cerca de cem espécies de nepentes cresce em florestas úmidas do sudeste da Ásia, geralmente em solos pobres ou como epífitas - plantas que vivem sobre outro vegetal, mas sem "roubar" nutrientes. Para complementar sua alimentação, elas capturam e digerem animais em cavidades cheias de fluido. Essas bolsas são folhas altamente modificadas e, apesar de variarem muito em tamanho e forma - de tubos do tamanho de um dedo a enormes jarros de 3 litros -, todas seguem um mesmo padrão. A boca tem as extremidades - ou peristômios - bem pronunciadas, com glândulas que produzem néctar logo abaixo da borda interior, que atrai a presa para a cavidade. Por dentro, as paredes são organizadas por zonas. A zona superior é macia e encerada, enquanto as paredes abaixo da superfície da cavidade com fluido são pontilhadas por glândulas que produzem enzimas digestivas que ajudam a dilacerar os cadáveres das presas afogadas.
Fonte de pesquisa: Revista Galileu
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