Uma eventual galeria de heróis de todos os tempos não poderia prescindir do pesquisador americano Norman Borlaug. Embora pouco conhecido no Brasil, benfeitorias não faltam para lhe credenciar ao panteão dos visionários que ajudaram a mudar o mundo para melhor: estima-se que as inovações agrícolas desenvolvidas por ele evitaram a morte de mais de 200 milhões de seres humanos devido à fome.
 Seus feitos contrastam com a humildade que sempre o caracterizou. Graças a pesquisas que multiplicaram a capacidade de produzir grãos a partir dos anos 60, inicialmente no México e depois em países latino-americanos, africanos e asiáticos, foi considerado o pai da Revolução Verde. A modéstia, porém, o fez rejeitar repetidas vezes o epíteto. Todas as vezes em que tentaram lhe alçar ao pedestal de líder dessa revolução pacífica, dizia:
– Que expressão miserável.
Em 1970, quando trabalhava em uma plantação nos arredores da Cidade do México, foi declarado vencedor do Prêmio Nobel da Paz. O argumento da academia foi de que “mais do que qualquer outra pessoa desta era, ele ajudou a prover pão para um mundo faminto” e a evitar conflitos decorrentes da crise alimentar que se avizinhava. Sua mulher foi correndo lhe dar a notícia na lavoura onde estava. Borlaug riu e sussurrou, descrente:
– Alguém está lhe pregando uma peça.
A mulher insistiu até lhe convencer.
– Então, mais tarde eu comemoro – murmurou, e retomou o trabalho.
Ainda criança, na fazenda da família, em Iowa, estranhava o fato de as plantas crescerem mais em alguns lugares do que em outros. Já adulto, foi ao México pelo projeto da Fundação Rockefeller para decifrar o mistério e amenizar a crise alimentar no país. Combinando variações de plantas, desenvolveu espécies mais resistentes a doenças e variações climáticas e fez explodir a produtividade. Suas lições livraram da inanição ainda a Índia e vários outros países.
Anos mais tarde, pleiteou ao comitê do Nobel a criação de um prêmio específico para a agronomia. Como não obteve sucesso, resolveu lançar por conta própria um concurso anual destinado a destacar avanços no combate à fome por meio do Prêmio Mundial de Alimentação. Em 2006, o agrônomo brasileiro Edson Lobato foi um dos vencedores do prêmio e teve a oportunidade de testemunhar o caráter modesto de Borlaug.
Aproximou-se dele, que então já contava mais de 90 anos, e pediu um autógrafo em um livro. Uma acompanhante do pesquisador americano afastou Lobato, dizendo que o veterano cientista não deveria ser perturbado. Borlaug repreendeu a moça, tomou o livro em mãos e o assinou.
– Isso é uma honra para mim – completou Borlaug, devolvendo a publicação.
Lobato, destacado pelas pesquisas que contribuíram para enriquecer o solo do cerrado brasileiro e torná-lo uma vasta área de agricultura, agora estuda a possibilidade de prestar consultoria para fazer o mesmo em solo africano. Borlaug morreu em setembro do ano passado, aos 95 anos. Deixou, como legado, uma semente resistente ao tempo: ideais que seguem inspirando pessoas como Oskar Metsavaht, Fabio Barbosa e Lelé.
Fonte de pesquisa: Jornal Zero Hora
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