As plantas não são capazes de produzir metano, dizem pesquisadores que estão tentando resolver um mistério que incomoda os biólogos há anos.
As plantas não são capazes de produzir metano, dizem pesquisadores que estão tentando resolver um mistério que incomoda os biólogos há anos. Em lugar disso, acreditam, elas simplesmente tomam o gás dissolvido na água que encontram na terra e o retransmitem a atmosfera por intermédio de suas folhas.
Três anos atrás, uma equipe européia reportou que entre 10% e 30% das emissões mundiais de metano vêm das plantas. O metano é um poderoso gás causador do efeito estufa e, se a constatação procede, seria necessário recalcular seriamente o orçamento mundial de carbono.
Mas a alegação pode gerar controvérsia. Agora, Ellen Nisbet, da Universidade da Austrália do Sul, em Adelaide, e seus colegas reportam que não conseguiram identificar qualquer sinal de produção de metano em diversas espécies modelo, entre as quais agrião (Arabidopsis thaliana), arroz (Oryza sativa), milho (Zea mays) e uma alga verde (Chlamydomonas reinhardtii), em condições de laboratório.
E essas plantas tampouco parecem estar dotadas da capacidade de produzir metano. Uma busca em bancos de dados de genomas vegetais determinou que elas não contêm genes comparáveis com os das bactérias conhecidas como produtoras do gás. Os resultados foram reportados em artigo publicado pela Proceedings of the Royal Society.
Quirin Schiermeier
Atos antinaturais
Caso cultivadas em temperaturas anormalmente altas ou sob forte luz ultravioleta, as plantas produzem pequenas quantidades de metano. Mas a equipe de Nisbet acredita que, longe de isso resultar do metabolismo vegetal, o gás seja gerado como produto acessório da decomposição de material celular.
"As pessoas não haviam percebido que, se houver gás na água do lençol freático, ele será colhido e emitido pelas plantas", disse Euan Nisbet, especialista em ciências da Terra no Royal Holloway College, da Universidade de Londres, e co-autor do estudo. "Uma pequena quantidade de metano parece ser gerada, de alguma maneira estranha, mas estamos falando de volumes muito reduzidos”.
"Acredito que estejamos realmente chegando ao final da história", ele acrescenta. "Não existe nada de fundamental em termos bioquímicos a ser descoberto, e nenhum metabolismo novo. Certamente não estamos planejando reescrever os manuais sobre plantas”.
Observações por satélite de grandes concentrações de metano sobre as florestas tropicais, que eram interpretadas como resultantes de emissões vegetais diretas, não são precisas o bastante, para provar que as plantas contribuem de forma importante para o orçamento mundial de metano, ele diz.
Uma diferença de opiniões Mas outros acreditam que a questão continue em aberto. Franz Keppler, do Instituto Max Planck de Química em Mainz, Alemanha, um co-autor do relatório original sobre as emissões de metano por plantas, observa que estudos recentes apontam para um forte elo entre a produção de metano e a radiação ultravioleta, e que o metano pode prover de partes de plantas que não produzem água.
O metano dissolvido na água pode ter seu papel, ele diz, "mas isso definitivamente não basta para explicar nossas observações. É preciso haver alguma outra forma, ainda desconhecida, de gerar metano”.
O grupo de Keppler está conduzindo experiências para estabelecer como o estresse leva as plantas a produzir metano. As provas são complexas, ele diz. "Todo mundo precisa de autocrítica quanto ao trabalho que faz. Mas é uma controvérsia muito envolvente”. O debate continuará em um seminário em Mainz.
Tradução: Paulo Migliacci
Fonte de pesquisa: Nature
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